segunda-feira

Pescaria

Eu amei. O homem não era um caçador. As presas mulheres da vida dele tinham ficado em um passado distante e em sua nova faze da vida ele buscava. O lago estava calmo e silencioso e os peixes nadavam tranquilamente no balé aquático que a quietude montanhosa traz. Ela estava sentada à beira do lago. E tudo á sua volta era dela: o homem e a mulher dentro do lago, o silêncio, os peixes, as montanhas e o passar do tempo. Não havia nada existindo fora dela. Ela era. E os ecos de seus pensamentos ressoavam em todas as mentes daquela tarde. O céu começava a se fechar. Era uma tempestade vinda de dentro e de fora. E a mulher era um espelho. A cada passada de rede seu coração se espremia dentro do peito. E tudo de transformava em água turva e despedaçada. Não havia perdão nem medo. Seu desespero era desespero de peixe, seu coração de peixe, ela um peixe. Mais peixe do que outras coisas. Mais peixe. Mais peixe... Só peixe. E contra todas as possibilidades da água turva e da tempestade. Um peixe é fisgado. Ela é fisgada. E fica na rede. Uma rede que transformada em prisão. E se debatem junto em um só corpo. A outra mulher e o homem dentro do lago turvando a água despertaram em si caçadores e um instinto nato de sobrevivência. Era preciso mais. E a mulher pressa na rede se debatia. Debatia. Sendo arrastada até o final do lago e jogada a margem. Ela e o peixe. No céu a tristeza se fazia cinza e o vento juntava em pesadas nuvens o ar. O sol resistia e entrava por entre a cor rasgando em dourado e luz o pesar e a dor do peixe.


Jogados ali, o homem tira da rede o peixe que é colocado a beira do lago. Em uma sacola de água. Ali o peixe respira. Respira. Devagar e a cada respiração o céu se escurece e a mulher respira menos em seu sangue. A água é pouca, o tempo é muito. Respiram peixe- mulher mulher-peixe. O tempo se esqueceu de passar. Respiram. Mas a montanha quieta se compadece deles. A chuva cai. Cai. E mulher e homem fogem e fogem como se não pudessem ser diferentes. Pois todas as dores são iguais. Em cor. Em luz. Em doer. Esquecem-se do peixe que fica a margem do lago. A chuva cai e vira a sacola. O peixe esta livre escorrega até a beira do barranco. É só cair no lago voltar para o seu lugar e pronto. Ele cai e cai na rede. Debate-se, e fica preso. O lago enche a mulher esta presa. A água sobe. Eles estão presos. O lago estoura. Tudo se esvazia. O peixe fica preso na rede e se debate. Debate. Debate. Debate. Debate. Debate. O peixe morreu. A mulher morreu. Eu morri.