quinta-feira

Os trabalhos insignificantes, a educação, o mito de sísifo e a dura realidade do todo dia.

Hoje comecei bem o dia lendo um texto do professor David Graeber, sobe o fenômeno dos trabalhos insignificantes, o texto pode ser encontrado no original aqui e numa versão traduzida aqui.

É um excelente texto que diz muito do que penso sobre o assunto, mas gostaria de tocar em um outro ponto bem inquietante para mim: se todos temos uma boa noção da insignificância dos nosso trabalho e da sua inutilidade patente, por que continuamos nos submetendo a isso? (Ok, nem todo mundo nasceu em berço de ouro e pode se dar ao luxo). Mas o que nos impede de olhar para isso arregaçar as mangas e enfrentar a vida de outra maneira?

Pensando nisso, vou atrás de Camus e o seu mito de Sísifo configurado em absurdo e da força que não cultivamos para ir para frente.

Antes:

Diz Steiner que a questão social que permeia a educação é a seguinte: como educar para que o ser humano possa a partir de suas próprias forçar transformar os nãos da vida em sins? Como educar para empoderar e para que seja possível que o ser seja o que é?

Eu não tenho bem certeza de qual é essa resposta ainda. E pretendo passar o resto da vida tentando descobrir. Mas uma coisa eu tenho certeza essa educação que está aí não é a resposta.

E não estou falando de escolas publicas somente, estou falando de "boas" (e caras) escolas particulares que massacram infância, crianças e vidas.

O que já sei é que uma educação que empodera não passa apenas pelo pensar, passa antes pelo querer e pelo sentir. E principalmente pelo brincar livre com brinquedos simples, silenciosos e com objetos de verdade. Imagine o desespero de muitas mães e pais vendo um menino com uma enxada, um facão... diz:
"O dialogo com aquelas matérias primas do trabalho da vida comunitária é real, não é uma foice de plástico, não é uma imitação de uma foice, é uma foice isso faz com que a criança se permita a ser, a interagir com o mundo. O peso da matéria precisa ser real porque a imaginação reconhece o percurso, se a matéria é falsa a imaginação desconfia do percurso e não cria elo e não cria conexões."
 Gandhy Piorskye
Pois, bem voltemos desconfio aqui com meus miolos que uma "educação" devastadora cria seres humanos infelizes e incapazes de transformar não em sim. Ainda mais com o não que vem que é avassalador e cruel até o último fio de existência.

Entra Camus e seu mito de Sísifo que na verdade é um mito grego. A história de Sísifo é mais ou menos assim: Sísifo era um homem que trapaceou os deuses do Olimpo e a morte. Sua punição foi rolar uma pedra até o alto de um morro todo dia, mas lá no topo do morro ele perde a força e ela volta lá para baixo, no dia seguinte ele tem que recomeçar tudo de novo. 

E esse é o absurdo de todos os dias. Diante da dor desse absurdo o que podemos?
Vejo três opções: Se afogar em qualquer coisa para esquecer (trabalho insignificante, álcool, facebook, consumo). Viver em estado de constante revolta e ódio. Ou enfrentar o fato, arregaçar as mangas (exercitar a vontade!) e fazer algo significativo mesmo que isso seja ao final um trabalho de Sísifo. O desgaste da rocha eventualmente  a torna mais leve. No caminho encontramos pessoas que ajudam um pouco e se nada disso acontecer você ainda terá feito algo melhor.

A beleza da vida é que ela apesar de se parecer com a história é muito mais vicejante. Ela se reinventa quando nos reinventamos.

No entanto, para a terceira opção é preciso muito mais força, mais integridade e mais trabalho. É essa opção que a educação atual mói. Estamos em franca campanha militar de "gente arrasada".

Fazemos na escola terraplanagem de criança (expressão da querida Nina Veiga) e depois nos perguntamos porque as pessoas são tão planas.

Como uma pessoa pode imaginar e criar um futuro diferente se dela foi sistematicamente tirado toda a capacidade? Diga-me!

Mas então não tem saída. Ah! A humanidade!

Sempre tem saída para a humanidade. A todo momento é possível se reinventar, se transformar e ir. Sei que a saída de hoje é coletiva. Vamos juntos então?





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