domingo

Tanta coisa no mundo

Faz uns dias uma espécie de melancolia ultra sensível se apoderou de mim.

Uma gatinha que foi lar temporário aqui em casa foi devolvida depois de 5 meses por ter quebrado um vaso e alguns copos dos antigos donos. Toda vez essas demonstrações de descaso e de objetificação do que é vivo me acontecem fico bem chateada.

Não porque acredite que bichos são mais importantes do que gente ou que pessoas que maltratam animais devem ir presas (é perverso prender,é vingativo. Pessoas que maltratam animais deveriam ser responsabilizadas através de pagamento de multas e de prestação de serviços. Sem contar que a prisão está falida desde sempre (vide Foucault).

Descartar um ser vivo que está vivendo com você há 5 meses, seja bicho ou gente demonstra como nossa humanidade está frágil. Transformamos seres em coisas e jogamos fora quando não mais nos convém. Fazemos isso com criança, mais obviamente quando crianças adotadas são devolvidas, mas também com as crianças paridas, quando relegamos a criança ao "cuidado" da televisão, ao cuidado de avós (cansou da boneca viva sabe?) e das babas.

Ter bichos é inconveniente: eles fazem barulho, estragam coisas, fazem coco, as vezes eles ficam doentes, as vezes você não pode viajar porque não tem quem cuide ou não pode pagar. Eles são vivos e demandam atenção.

Ter filho é também extremamente inconveniente, além de fazerem tudo que um bicho faz, vivem muito mais anos e demandam muito mais atenção e afeto. Você vai precisar ficar uns 20 anos da sua vida educando a criatura, pra começo de conversa.

Mas o ponto principal é que não temos bichos ou filho pela conveniência. É por todo o resto, pelo amor incondicional, pelos pequenos momentos que valem a vida.

Enquanto escrevo, meu dois gatos estão ao meu lado, apertadinho no meio da minha bagunça, só porque querem estar por perto. Pela presença deles em todos os momentos, passei a achar graça quando me acordam as 6 da manhã para pedir comida ou quando tenho que limpar as caixas de areia.

Ainda não tenho filhos, mas sei que existem incontáveis motivos para tê-los.

A vida sempre dá trabalho porque só se vive na imperfeição, no caminho, no fazer, não existe vida no que está acabado e pronto.

Mas a vida pode dar trabalho para um lado ou para outro. Eu sei que não devemos nos focar apenas no individuo culpabilizando e apontando, o outro como nós, só é no social e nós como sociedade temos que saber disso.

Mas tem dias em que temos que respirar fundo três vezes e procurar a beleza que não se fez óbvia.

A beleza que só é beleza quando nós a olhamos assim bela.

Excelente semana a todos!

Comida, gênero e outras cositas mas.

Confesso que durante a semana pensei em muitas coisas para escrever aqui. Mas hoje a cabeça ficou oca e está difícil enchê-la com alguma coisa.
Mas vamos, lá.
O que ficou de diversas divagações nos caminhos para os lugares foi essa ideia de que precisamos retomar toda questão alimentar em nossas mãos.

Desde de que me entendo por gente comida foi uma questão, seja porque sempre tive problemas com o meu peso reais e imaginários. Seja porque minha mãe se importou  muito com a nossa alimentação quando éramos crianças. Seja porque quando fiquei totalmente vegetariana as pessoas se incomodavam muito com esse assunto. Alias só pra constar,tenho uma regra pessoal muito importante: "Cada um come o que bem entender." Não sou a favor da patrulha da comida, sabe aquela pessoas que fica "Ih você come isso?", "Ih você como aquilo", se é um adulto posso conversar, dar dicas e falar sobre a minha opinião sobre aquilo, mas sem patrulhar ninguém.

Enfim comida é uma necessidade básica precisamos comer todos os dias, ou deveríamos,  e que nos mantém vivo, saudáveis e com energia para estar no mundo. Mas, a modernidade fez com que tudo que seja relacionado as necessidades mais primitivas fosse negligenciado ou transformado em negócio bilionários e nesse caso, genocidas.

A maioria de nós não tem a mínima ideia de onde vem, como são feitas, quem faz ou planta, quais os ingredientes dos alimentos que comemos. O assunto é extenso e dá ensejo para muitos escritos, mas temos alguns dados: somos o país que mais consome agrotóxicos no mundo, cada brasileiro médio come 4,5 l de agrotóxico por ano (Abaixo deixo alguns links para matérias e documentários sobre o assunto.). Não bastasse consumimos muito, mais muito mais açúcar e sal do que deveríamos e estamos acostumando nossas crianças a isso. Sem contar que fora isso não cozinhamos nossa própria comida, não nos damos ao trabalho de buscar alimentos mais vivos, mais locais e mais saudáveis.

Logo, vem a turma do sem radicalismos. Tudo bem sem radicalismos cada um dá conta da suas próprias escolhas, mas se você está começando a buscar novas formas aqui vão algumas dicas que uso todos os dias para me alimentar.

1. Procure comer frutas e legumes da época, isso significa que mesmo em sistema convencional (com agrotóxicos) é mais provável que a coisa esteja um cadinho menos contaminada. O ideal é se alimentar exclusivamente de alimentos orgânicos ou biodinâmicos ou agroecológicos.

2. Procure consumir coisas locais ou de perto de você, ninguém na face da terra vai me convencer que é melhor comer o cogumelo do himalaia do que a alface de um produtor amigo, isso é importante porque fortalece quem está perto e faz com que você consiga sempre se alimentar de produtos frescos.

3. Toda vez que bater aquela preguiça e dar uma vontade de desistir pense o seguinte: se alimentar de alimentos altamente industrializados (basicamente tudo que se vende no supermercado) e cheios de agrotóxicos é o mesmo que tomar um gole de veneno todo dia, se você não toma esse gole de veneno porque raios comeria esse veneno misturado na comida?

4. Tome cuidado com os modelos prontos que tendem a ser bem radiais, experimente o que te faz bem, leia sobre o assunto, não existe uma fórmula mágica, existe sim sensibilidade para perceber o que faz bem a cada um.

5. Não vale a pena fazer nada disso se você sofre com isso. Não adianta ficar, sei lá, sem tomar leite se você olha por leite e delira de vontade. Se é uma coisa que você deseja parar de fazer, passe pelo processo, vá diminuindo, vendo como seu corpo reage. Temos que nos alimentar com alegria e simplicidade.

6. Tem coisas que não tem jeito, ou você assume o risco de comê-las ou desiste.

7. E o mais importante seja feliz fazendo o que faz, assuma com respeito e tranquilidade as suas escolhas.

Alimentar-se é ato diário e é muito necessário que olhemos pra isso com mais amor e responsabilidade logo! Precisamos trocar a farmácia por uma quitanda orgânica.

O gênero e as cositas mas ficam para domingo que vem.

Segue como prometido links sobre os mais diversos assuntos divirtam-se e boa segunda-feira!

http://ecycle.com.br/component/content/article/35-atitude/1843-dossie-abrasco-brasil-maior-consumo-agrotoxico-pesticida-herbicidas-fungicidas-inseticihttps://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGgdas-mundo-contaminacao-doenca-populacao-leite-materno.html

https://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg

https://www.youtube.com/watch?v=fyvoKljtvG4

https://www.youtube.com/watch?v=8UGe5GiHCT4





De novo a divisão dos afazeres da casa.

O que me trouxe aqui hoje foram várias situações que me saltaram aos olhos: Mulheres, algumas inclusive provedoras, independentes, com companheiros companheiros e com outro paradigma de relação tem se expressado no sentido de que todo (ou a maioria) o trabalho doméstico da casa é delas.

Machismo, feminismo e gênero, há quem não goste desses termos e não queria discutir essas questões. Homens e mulheres que olham para o outro lado quando o assunto é como nossa sociedade ainda se pauta em diferenciações depreciadoras sobre papéis que os gênero assumem e como alguns trabalhos relacionados as coisas mais básicas e essências da vida como alimentação, roupas limpas e um mínimo de organização são trabalhos menores e portanto das mulheres seres que são "especialmente" dotados dessa capacidade mágica de jogar as coisas no lixo, organizar o guarda-roupa, cozinhar, pegar numa vassoura e varrer a casa, de lavar a louça e não deixar restos de comida no fundo da pia, de guardar a louça, de chegar em casa tirar a roupa, sapatos e não deixá-los jogados em qualquer lugar.
Enfim, coisas absolutamente mágicas que os homens seres muito maiores que essa banalidades, que precisam de tempo para descansar, para ver um futebol, para ficar tranquilo, para estudar e ser parte de grandes invenções da humanidade, que os homens, que muitas vezes são tratados como eternos bebezões nesses aspectos, não possuem, essa a capacidade mágica que a mulheres tem ser uma "dona de casa".

Peraí, cara-pálida no estilo mais laureano de ser, eu sou mulher e desde pequenina me ensinaram que depois de lavar a pia a gente enfia a mão naquela água cheia de restos, limpa o ralo pra água descer e espera ali pra tirar tudo que ficou no fundo e deixar a cozinha limpinha, me ensinaram que roupa a gente dobra antes de guardar e que se eu, menina-mulher, não fizer dessa maneira, sou uma desleixada. Minha vó, querida demais, me fazia varrer a casa tantas quantas vezes fossem até eu aprender que se varre os mínimos cantinhos e não "onde a vista passa". Eu como menina-mulher, não tinha a mamata de poder largar minhas roupas e coisas em qualquer lugar e sair correndo, eu acho até que menina não corre na verdade. Quando era desleixada com alguma coisa me chamavam a atenção, em hipótese alguma ouvi a desculpa "é porque menina é assim mesmo, liga pra nada".

Quando eu e meu companheiro decidimos morar juntos, foi um longo (e chato) caminho até conseguirmos dividir as tarefas igualmente (talvez ele faça um pouco mais), até que ele ganhasse um senso de organização, até que a faxina se tornasse chato mas necessário, até que gordura não fosse jogada na pia e muitas outras coisas. Coisas que ele não se importava ou não sabia porque não foi ensinado, como eu.
Nós assumimos a árdua tarefa de dividir as tarefas domésticas, desde as compras de comida que fazemos juntos, as roupas lavadas, a louça, o lixo, a limpeza, tudo nós dividimos, pois ele é responsável por sua existência doméstica, não eu.
Ele mora na casa e responsável por ela como eu, limpa, cozinha e arruma. Cama, mesa e banho.
Meu companheiro sabe que cada vez que a parte dele da sujeira fica pra mim, isso me sobrecarrega de tarefas, ele sabe que no mínimo não é justo que eu gaste todo o meu tempo livre limpando a nossa sujeira e arrumando nossas coisas.

Dá trabalho, é chato, discutimos mas é necessário que cada um comece a fazer o mesmo. É um ato político e vivo, porque cotidiano, em que devemos insistir.

Primeiro, precisamos retomar o doméstico em nossa mãos e fazê-lo parte da vida e depois precisamos urgentemente dividir as tarefas entre homens e mulheres.
(Vale lembrar que essa de não sei fritar um ovo e sou foda por isso não adianta, viu colega? Afinal, terceirizar sua sujeira para outra mulher, que faz isso na casa dela, não muda o problema central.)

Não adianta querer um novo mundo se nos escondemos atrás de velhos papéis confortáveis e seguros.

O assunto, pode-se dizer, anda na boca do povo, mas por onde olho, vejo o quanto estamos a passos de formiga.

Vale lembrar, que os processos e subjetividades envolvidas devem ser respeitadas, ok?