sábado

Mídia, catarse, vingança: a torcedora gremista.

É, o título é pesado porque pesado se fizeram os acontecimentos dos últimos dias.

Há algum tempo, acompanho, um pouco assusta, o poder que a mídia tem criar ódios. É bem provável que eu esteja aqui tecendo conjecturas sem fim, mas, de tempos em tempos, surgem (são criados) esses seres odiosos. Nós, o povo, pedimos sangue, a justiça ouve e nos devolve sangrias sem fim. No final de um mês, temos dois sentimentos no peito o de que o mundo é um lugar muito ruim e o de que nosso clamor por "justiça" (que é vingança) foi atendido.

Sem pé nem cabeça? Pois, vou citar alguns exemplos.

(!!! Atenção!!! Antes de mais nada, acredito que o que eles fizeram foi errado e que seus atos deveriam ter consequências. Se a prisão é como nossa sociedade (doente) resolveu tratar isso, que sejam julgados dentro do sistema de garantias constitucionais e presos.)

Os Nardoni, aquele casal simpático e amoroso, que tinha uma filha que estava fazia muito barulho e resolveu, que jogá-la da janela do prédio, era de fato uma ideia eficaz.

Naquele momento tínhamos um acontecimento esdrúxulo e cruel! Tínhamos olhos voltados para o fato, acima de tudo, tínhamos uma oportunidade de pensar questões muito importantes sobre nossa sociedade! Sobre como objetificamos tudo, sobre como o individualismo floresceu pútrido. Se quiséssemos poderíamos discutir até a própria essência do sistema capitalista!
Mas, não! Como sociedade escolhemos crucificar aquelas pessoas. Desejamos vingança, sangue, morte. Agimos como abutres.

TODO o resto foi esquecido só importava que eles, o outro, fossem exterminados da face da terra. Porque assim, seríamos melhores. Ninguém olhou as próprias práticas, ninguém foi capaz de olhar as pessoas. Criamos monstros, eles fazem monstruosidades, matamos os monstros.

Depois temos o Lindenberg! Aquele garoto machista que matou a namorada. Outro monstro, esse, criado pelo machismo. Mais uma vez perdemos a chace de reconhecer as questões de gênero, que reconhecer o machismo na sociedade brasileira. A mídia nesse caso foi ainda mais cruel porque se interferiu nas negociações do garoto com a polícia. Porque Lindenberg era um garoto com uma arma na mão desesperado porque a namoradinha o rejeitou. Desesperado porque aprendeu que um MACHO não é rejeitado. Ensinaram a ele que a mulher com que ele se relaciona é dele e não pode nunca rejeitá-lo.

TODO o resto foi esquecido só importava que ele, o outro, fossem exterminados da face da terra.  Porque assim, seríamos melhores. Ninguém olhou as próprias práticas, ninguém foi capaz de olhar as pessoas. Criamos monstros, eles fazem monstruosidades e matamos os monstros.

O mais novo caso  é o da mocinha gremista que despejou (como muitos fazem) seu racismo em campo (e fora dele) e deu o azar de ser filmada. Essa moça é racista? Sim, ela é! Como a maior parte da sociedade brasileira é racista.
Demonizar essa moça não resolve o problema do racismo. Pelo contrário, enquanto apontamos o racismo da mocinha, postamos no facebook, estamos de novo (pasmem de novo!) fazendo esse movimento catártico que nos exime de responsabilidade.

Poderíamos estar discutindo como a sociedade, TODA, é racista. Poderíamos olhar nossas práticas, as práticas dos estádios, refazer nosso dicionário de xingamentos e consubstanciar outras práticas sociais. Mas não! Demonizamos a moça. A tratamos como se todo racismo do mundo estivesse nela, e quando conseguirmos exterminar essa moça, o racismo terá acabado e dormiremos num mundo melhor.

TODO o resto foi esquecido só importava que ele, o outro, fossem exterminados da face da terra.  Porque assim, seríamos melhores. Ninguém olhou as próprias práticas, ninguém foi capaz de olhar as pessoas. Criamos monstros, eles fazem monstruosidades e matamos os monstros.

Veja bem, em todos esses casos não defendendo que a pessoa não é responsável pelo que fez ou que ela é um mero produto ou que deveríamos ser condescendentes com nenhuma das atitudes acima. Essas pessoas precisam ser responsabilizadas pelo que fizeram. (Não que a prisão seja o caminho, mas essa é outra história e outro lugar.) Apenas, não devemos transformar essas pessoas em monstros que quando eliminados também eliminam todo "mal" do mundo.

Dessa forma perdemos oportunidades de fazer discussões, de trazer a tona assuntos que são tabu. Reforçando essa práticas de alguma maneira.

Aproveito para deixar aqui minha solidariedade a tod@s as mulheres negras e homens negros que sofrem com o racismo diariamente. Deixo minha solidariedade por essa luta que também é minha, porque enquanto houver injustiça e descaso no mundo do qual faço parte, essa injustiça e descaso também são minha responsabilidade.



Nenhum comentário:

Postar um comentário