domingo

De novo a divisão dos afazeres da casa.

O que me trouxe aqui hoje foram várias situações que me saltaram aos olhos: Mulheres, algumas inclusive provedoras, independentes, com companheiros companheiros e com outro paradigma de relação tem se expressado no sentido de que todo (ou a maioria) o trabalho doméstico da casa é delas.

Machismo, feminismo e gênero, há quem não goste desses termos e não queria discutir essas questões. Homens e mulheres que olham para o outro lado quando o assunto é como nossa sociedade ainda se pauta em diferenciações depreciadoras sobre papéis que os gênero assumem e como alguns trabalhos relacionados as coisas mais básicas e essências da vida como alimentação, roupas limpas e um mínimo de organização são trabalhos menores e portanto das mulheres seres que são "especialmente" dotados dessa capacidade mágica de jogar as coisas no lixo, organizar o guarda-roupa, cozinhar, pegar numa vassoura e varrer a casa, de lavar a louça e não deixar restos de comida no fundo da pia, de guardar a louça, de chegar em casa tirar a roupa, sapatos e não deixá-los jogados em qualquer lugar.
Enfim, coisas absolutamente mágicas que os homens seres muito maiores que essa banalidades, que precisam de tempo para descansar, para ver um futebol, para ficar tranquilo, para estudar e ser parte de grandes invenções da humanidade, que os homens, que muitas vezes são tratados como eternos bebezões nesses aspectos, não possuem, essa a capacidade mágica que a mulheres tem ser uma "dona de casa".

Peraí, cara-pálida no estilo mais laureano de ser, eu sou mulher e desde pequenina me ensinaram que depois de lavar a pia a gente enfia a mão naquela água cheia de restos, limpa o ralo pra água descer e espera ali pra tirar tudo que ficou no fundo e deixar a cozinha limpinha, me ensinaram que roupa a gente dobra antes de guardar e que se eu, menina-mulher, não fizer dessa maneira, sou uma desleixada. Minha vó, querida demais, me fazia varrer a casa tantas quantas vezes fossem até eu aprender que se varre os mínimos cantinhos e não "onde a vista passa". Eu como menina-mulher, não tinha a mamata de poder largar minhas roupas e coisas em qualquer lugar e sair correndo, eu acho até que menina não corre na verdade. Quando era desleixada com alguma coisa me chamavam a atenção, em hipótese alguma ouvi a desculpa "é porque menina é assim mesmo, liga pra nada".

Quando eu e meu companheiro decidimos morar juntos, foi um longo (e chato) caminho até conseguirmos dividir as tarefas igualmente (talvez ele faça um pouco mais), até que ele ganhasse um senso de organização, até que a faxina se tornasse chato mas necessário, até que gordura não fosse jogada na pia e muitas outras coisas. Coisas que ele não se importava ou não sabia porque não foi ensinado, como eu.
Nós assumimos a árdua tarefa de dividir as tarefas domésticas, desde as compras de comida que fazemos juntos, as roupas lavadas, a louça, o lixo, a limpeza, tudo nós dividimos, pois ele é responsável por sua existência doméstica, não eu.
Ele mora na casa e responsável por ela como eu, limpa, cozinha e arruma. Cama, mesa e banho.
Meu companheiro sabe que cada vez que a parte dele da sujeira fica pra mim, isso me sobrecarrega de tarefas, ele sabe que no mínimo não é justo que eu gaste todo o meu tempo livre limpando a nossa sujeira e arrumando nossas coisas.

Dá trabalho, é chato, discutimos mas é necessário que cada um comece a fazer o mesmo. É um ato político e vivo, porque cotidiano, em que devemos insistir.

Primeiro, precisamos retomar o doméstico em nossa mãos e fazê-lo parte da vida e depois precisamos urgentemente dividir as tarefas entre homens e mulheres.
(Vale lembrar que essa de não sei fritar um ovo e sou foda por isso não adianta, viu colega? Afinal, terceirizar sua sujeira para outra mulher, que faz isso na casa dela, não muda o problema central.)

Não adianta querer um novo mundo se nos escondemos atrás de velhos papéis confortáveis e seguros.

O assunto, pode-se dizer, anda na boca do povo, mas por onde olho, vejo o quanto estamos a passos de formiga.

Vale lembrar, que os processos e subjetividades envolvidas devem ser respeitadas, ok?



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